Dia das crianças

Um dos assuntos recorrentes aqui é a espera, a ansiedade, a expectativa. E este texto não é sobre isso. O texto de hoje é sobre um assunto, para mim tão recorrente quanto, e que tem me feito perder sono, verter lágrimas, e que me pega várias vezes ao dia.

Hoje comemoramos o dia das crianças. Dia em que as crianças recebem carinho, atenção, presentes. Muitas escolhem o que querem almoçar, outras escolhem inclusive o restaurante onde toda a família vai almoçar, afinal “é dia das crianças e não dia das mães ou dos pais”.

Ultimamente uma das coisas que mais tem frequentado minha mente é a vida “paralela” que minhas crianças vivem hoje. O que tem sido da vida delas? Quais momentos de atenção carinho e amor elas tem recebido hoje, ou não.

Por mais que eu tente não pensar nisso, para não pirar ou para, pelo menos não sofrer, tem sido impossível nesses últimos dias. Já falamos aqui sobre a “mochila” das crianças, e tudo o que virá acompanhando-as, porém nos últimos dias tenho pensado não no que virá, mas no que está acontecendo hoje.

Existem alguns grupos no facebook, no whatsapp, além de grupos que se reúnem pessoalmente, onde pessoas executam um processo chamado busca ativa. Essas pessoas recebem os perfis de crianças e divulgam em diversos desses grupos buscando pais que tenham selecionado o mesmo perfil durante a habilitação. Michelle participa, como habilitada, de alguns desses grupos. Ontem, durante o meu almoço, recebi através dela a história de 2 crianças.

Menino, branco, saudável, amável, inteligente. Esse é o perfil de uma dessas crianças. Hoje ele tem 12 anos, está abrigado desde os 5.

Menina, 10 anos, negra, doce. Tem boa elaboração de sua história pessoal e está ansiosa pela adoção. Foi acolhida a 2 anos porque pretensamente o genitor cometera abusos (não se especifica quais) contra toda a prole, está em acompanhamento psicológico e sua única preocupação (leia, ÚNICA!) é o distanciamento dos irmãos. Menciona já ter sofrido muito com o pai.

Como ler esses relatos e não chorar? Como digerir essas histórias? Como dormir pensando no motivo pelo qual um menino branco de 5 anos não foi adotado antes de completar 12? Como tentar compreender o que se passa na cabeça dessa princesa de 10 anos que além da distância dos irmãos fica imaginando o que será que o “novo” pai vai fazer?

Por mais que eu queira não pensar do que minhas crianças estão sofrendo, isso acaba sendo inevitável.

Se eu pudesse ser criança mais uma vez, só teria um pedido.
Pediria que as minhas crianças estivessem aqui comigo hoje.
Assim eu poderia dar carinho, presentes, atenção.
Eu poderia mimá-las, amá-las!

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